Igreja Privada da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco

 

     A Igreja Privada da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, foi construída mercê da prosperidade da Irmandade dos Terceiros de S. Francisco do Porto, adequada à grande afluência de devotos e ao esplendor do culto.

     Foi a primeira igreja de estilo neoclássico edificada no Porto. A sua construção iniciou-se em 1792, segundo planta de António Pinto de Miranda (arquitecto da Relação do Porto e riscador de retábulos) e sob a direcção do italiano Luigi Chiari (daí as nítidas influências do estilo  clássico italiano neste templo), sendo benzida em 19 de Maio de 1805 pelo bispo D. Frei António de S. José e Castro, embora já estivesse praticamente concluída no fim de 1799 e já nela se celebrasse o culto.

     Diz Carlos de Passos que esta «é a mais notável das igrejas do Porto, pela harmonia e homogeneidade do conjunto (arquitectura e decoração) e, também, pela feição italiana, única na cidade e pouco vulgar no País» «As figuras simbólicas e os anjos são da autoria de Sousa Alão, que executou também o Senhor Ressuscitado da porta do sacrário e os oito anjos dos altares laterais. Estes quatro altares  laterais são obra de Luigi Chiari, feitos em 1798, tal como os cadeirais para a Mesa Administrativa, as grades da capela-mor, as das frestas ou tribunas e todas as portas da igreja. O arquitecto italiano desenhou também os seis grandes castiçais do altar-mor, executados pelo entalhador Manuel Moreira da Silva. Nestes altares estiveram, antigamente, quatro painéis pintados por Vieira Portuense, em Londres, entre 1799-1800, representando Nossa Senhora da Conceição, S. Luís, rei de França, e a rainha Santa Isabel; o quarto painel, de Santa Margarida de Cortona, era uma cópia do original pintado por Vieira Portuense, executada em 1890 pelo restaurador A. Moura 


 

 Os Imponentes Andores


     Uma das iniciativas mais marcantes da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco foi a Procissão de Cinza que saía pela cidade na Quarta-Feira de Cinzas. Há notícia desta procissão desde 1661, referindo os imponentes andores, de ricas alfaias e magníficas imagens. A adesão popular a este acto litúrgico motivou que o número de andores (12,no início) aumentasse nos anos seguintes, chegando a sair 24 (em 1751) e 25 (em 1782), decidindo-se então que, futuramente, passariam a ser apenas 15, assim sendo desde 1784.

     As belas imagens destes andores, concebidas para figurarem vestidas a rigor, o que lhes dava uma solenidade muito especial, foram feitas por  Manuel Joaquim Alves de Sousa Alão (escultor portuense da segunda metade do século XVIII) e seus filhos, João Joaquim Alves de Sousa Alão e José Joaquim Alves de Sousa Alão, à excepção do Cristo Crucificado (primeiro andor), que veio directamente de Roma. Estes 15 andores integravam figuras de santos que foram protótipos de virtude e penitência: 1.° - S. Francisco de Assis em oração ante Cristo Crucificado; 2.° - Santa Rosa de Viterbo, virgem; 3.° - Santa Margarida de Cortona, penitente; 4.° - S. Luís, rei de França; 5.° - Santa Isabel, rainha de Portugal; 6.° - Santo Ivo, sacerdote; 7.° - Nossa Senhora da Soledade; 8.° - S. Roque, peregrino; 9.° - S. Francisco de Assis, recebendo na Ordem Terceira S. Lúcio e Santa Bona, a dos Bem-casados; 10.° - Santa Ângela de Foligno, penitente; 11.° - Santa Isabel, princesa da Hungria; 12.° - S. Carlos Borromeu, arcebispo de Milão; e 15.° - Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal.

     Algumas das vestes das imagens são do século XVIII, sendo outras dos séculos XIX e XX. Tanto os mantos e vestidos de algumas imagens e os desenhos das sanefas dos andores são bordados a fio de ouro fino. Dada a sua antiguidade e o uso frequente nas procissões, algumas das vestes degradaram-se ao longo dos, anos, tendo sido substituídas a cargo de algumas famílias devotas. No decorrer do século XIX, a Procissão de Cinza nem sempre se realizou, devido aos diversos acontecimentos políticos registados na primeira metade desse século. Voltou a sair em 1850, com 12 andores e numerosos figurantes, constituindo, segundo os jornais da época, um grande acontecimento na cidade. A partir de 1858, e porque nesse ano não saiu a procissão, a Irmandade decidiu expor os andores na igreja de S. Francisco, na Quarta-Feira de Cinzas, costume que se manteve durante muitos anos. Em 1905, realizou-se a última Procissão de Cinza. Desde então, a Exposição dos andores foi feita apenas esporadicamente. Actualmente, oito destes andores estão guardados, desmontados, no cemitério catacumbal, no subterrâneo da Casa do Despacho.